sábado, 11 de agosto de 2007

Confessionário III - A fuga

Aqui vai uma palavra que eu odeio:
Colaboração - Eu odeio essa palavra... não o que ela significa, mas a palavra, pois é uma forma dos adultos persuadirem as crianças por meio de argumentos fortes. Se me pedissem pra ajudar eu o faria com prazer, mas a palavra "colaborar" significa muito mais que "ajudar", significa que se eu não ajudar estarei atrapalhando... é uma mistura de ajudar com obrigação (e mais uma pitada de "trabalhe para mim, seu trouxa").

Bom, vamos viajar para o passado longínquo, quando eu estudava na pré-escola, onde usávamos aqueles aventais horrorosos com o nome estampado no bolso.
Tudo começou quando a hora de ir para casa chegou. Estavam todos os meus amiguinhos sorridentes com seus nominhos escritos caseiramente (e em letras cavalares) nos grandes bolsos na altura do umbigo esperando pelos pais que vinham nos buscar. Minha escolinha ficava no outro lado da cidade, próxima a casa da minha avó, mas longe demais de casa. A hora foi passando e nada de alguém aparecer pra me buscar, e aquele sol do capeta tava ligado no máximo naquele dia.
O que mais se ouvia era: "sobe logo que a gente vai pra praia ainda hoje", "corre menino, a praia tá esperando" ou "que tal um sorvetinho na praia?". E todas essas frases (fielmente reproduzidas aqui pela minha super-memória) foram me causando reações diversas, me dando uma série de vontades que aumentavam a cada segundo de atraso do meu pai (que deveria ter me buscado naquele dia).
PLIM, minha cabeça oca teve a idéia e lá fui eu em direção à minha casa... caminhei, caminhei e fui pra casa... atravessei uma distância equivalente do Condado até Mordor (olha eu com os filmes de novo) e quando cheguei em casa meu véio tava arrumando um cano estourado e nem tinha lembrado de ir me pegar... eu economizei o trabalho dele, mas é claro, levei uma bronca por ter voltado sozinho pra casa!
Anos depois... lá estava eu numa tarde em casa, quando meu irmão sumiu, mas eu nem senti falta do pestinha, porquê deveria estar com outro "membro" da família (membro soa obsceno, mas se eu disser sócio vou me igualar aos adultos que dizem "colaborar").
Mais tarde ainda todos estavam juntos (os membros, haha), porém, estava faltando o pestinha, que tinha a minha idade de quando eu fugi da escola pensando na praia e acabei me refrescando num cano quebrado, mas ninguém tinha idéia de onde ele estava, quando alguém teve a brilhante idéia de ligar pra casa da avó e perguntar. Ela disse que ele estava bem lá e a gente já podia buscar assim que ele comesse um bolo que ela estava fazendo (ô, memória). Já a noite chega meu véio pai com o menino que trazia dezenas de brinquedos coloridos, pensei que ele os havia ganhado da vó, mas eu estava terrivelmente enganado (Alguém já assistiu El Mariachi?).
Dois dias depois, fui até minha gaveta de roupas amontoadas, onde eu escondia meu cofrinho... preciso dizer que ele estava mais oco que a cabeça do meu irmão?
Fui superado em distância (porque ele não só andou a mesma distância que eu como ainda foi da escola até a casa da minha avó, que ficava mais distante ainda de casa... sem contar que passou em algum lugar pra fazer compras com MINHA grana) e fui superado em esperteza. ¬¬



Foto de uma partiturinha que eu escrevi numa agenda que um amigo (vamos chamá-lo pelo nome fictício de Dante) me deu eu Taubaté. Dante me deu um morcego morto que ele mesmo batizou de Rodometálico. A música escrita aí é uma das que tem no título maior duplo significado gay que eu conheço. Quer saber o nome? pega a violinha aí e vai tocar preguiçoso!!!

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